Autor: Francisco G. Haghenbeck / Tradutor: Luis Reyes Gil (Planeta)
Entre os objetos pessoais de Frida Kahlo descobertos na casa azul, onde ela viveu e morreu, havia um pequeno caderno de capa preta. Um presente de casamento de sua querida amiga, amante e alma gêmea Tina Modotti, a fotógrafa italiana comunista que apresentou Frida ao famoso pintor mexicano Diego Rivera. Neste caderno simples que Frida chamou de “Livro da Erva Santa”, ela escreveu memórias, piadas pessoais e suas receitas favoritas para o Dia dos Mortos. “Era para ser exibido pela primeira vez em uma exposição no Palácio de Bellas Artes. Mas no dia da abertura da exposição ao público, descobriu-se que o livreto havia desaparecido.”
F.H. Haghenbeck entrelaça habilmente os períodos mais importantes da vida de Frida com folclore mexicano e ficção para criar uma farsa deliciosa. Usando o clima político dos anos trinta e quarenta, a começar pela Revolução Mexicana como cenário, a narrativa abrange a infância de Frida, seu primeiro amor que a deixou após o acidente que quase a matou, seu tumultuado relacionamento com Diego Rivera; seu despertar artístico, sua evolução no mundo das artes plásticas, sua personalidade avassaladora, seu feminismo existencial, suas viagens aos EUA e Europa, seus encontros e romances com homens e mulheres notáveis de seu tempo.
Nesta estória, além de Rivera, o relacionamento mais intenso que Frida tem é com “A Chorona”, a morte, uma presença constante lembrando-a através de sua dor que ela vive em “tempo emprestado”. Quando Kahlo morre pela primeira vez em um acidente de bonde, ela faz um pacto com “A Chorona”: para voltar a viver ela se compromete a preparar todos os anos no Dia dos Mortos os banquetes mais deliciosos. “Mas eu estou avisando,” diz sua nova madrinha, “você sempre desejará ter morrido hoje. E eu irei lembrá-la disso todos os dias de sua vida.”
Seu compromisso com o Dia dos Mortos, juntamente com o grande apreço que Rivera tem por iguarias mexicanas, são as principais inspirações para que Frida se torne uma cozinheira excepcional. E para ilustrar esta faceta dela cada capítulo termina com um trecho do “Livro da Erva Santa” incluindo uma receita. Eu não pude deixar de experimentar uma, e posso garantir que o Lombo ao Molho de Tequila é uma delícia.
Sempre apreciei a arte de Frida Kahlo e admirei esta mulher que teve uma vida extraordinária, porém muito sacrificada. Não a vejo como a criatura obsecada por Diego Rivera da interpretação de Haghenbeck, mas desfrutei do livro como a obra de ficção que é.
O Segredo de Frida Kahlo é uma reinvenção de sua história. Ela faleceu em 1954, no entanto sua vida e sua arte ainda capturam nossa imaginação. Haghenbeck escreveu um livro envolvente que prende o leitor até a última página.